No último domingo, Nelson Piquet foi homenageado em Interlagos pelos 30 anos de seu primeiro título na F1. Ídolo controverso do esporte nos anos 1980, o tricampeão mundial deu quatro voltas com o Brabham BT49 e virou protagonista em um modorrento GP do Brasil, caracterizado pelo anticlímax e pelo irregular desempenho dos pilotos locais.
Nostálgico, frustrante e irregular. Seria, portanto, a derradeira etapa da temporada uma síntese do automobilismo brasileiro em 2011, ou melhor, nos últimos anos? Unanimidades são perigosas, principalmente em um esporte complexo como a F1, mas uma definição como esta talvez possa abrir uma janela de reflexão ao amante do automobilismo no país.
É fácil e viciante analisar o Brasil pela perspectiva do futebol e cravar que, como há 20 anos o país não conquista títulos na F1, o automobilismo local esteja em decadência. O argumento não é irrelevante, mas não é pelo “tabu” de duas décadas sem troféus que se pode explicar o desempenho ruim dos pilotos brasileiros.
Assim, seria simples raciocinar que, por conta dos 58 anos sem títulos, a Itália, com seu público fanático, possui um automobilismo em decadência, ou a Alemanha, que esperou 44 anos para ver um campeão na F1, nunca teve pilotos significativos no esporte antes de Michael Schumacher.
Mais relevante seria entender por que a F3 Sul-Americana – que revelou nomes como Christian Fittipaldi, Ricardo Zonta e Bruno Junqueira no passado – conta com apenas seis pilotos no grid e a F-Futuro possui pouco apelo comercial às grandes empresas. Faltam resultados ao automobilismo brasileiro, mas também falta discussão: os maniqueísmos herdados da cultura do futebol – que, de certa forma, possuem um grande valor lúdico, mas não analítico – podem cegar o público e até a imprensa na avaliação do problema.
Feita a ressalva, pode-se concluir que, de fato, os números em 2011 são ruins e o desempenho dos brasileiros é preocupante, em especial Felipe Massa. Se levarmos em conta que, nas outras cinco temporadas sem pódios brasileiros – 1976, 1977, 1979, 1996 e 1998 –, as máquinas disponíveis para os tupiniquins não eram as melhores, a situação do paulista não é boa.
Além de sustentar o ônus de não ter conquistado nada melhor que um quinto lugar em 2011, Massa ainda viu o companheiro de equipe Fernando Alonso conquistar uma vitória em Silverstone e 10 pódios ao longo do campeonato.
Nada disso, porém, tem a ver com o Brasil, como nação e “entidade”, na F1. Analisando organogramas de equipes como Virgin, Toro Rosso e até a “italiana” Ferrari, sabe-se que, em um esporte individual e multinacional, o tabu de uma “temporada brasileira sem pódios” nada mais é que uma generalização. Um sentimento de nostalgia aliado à frustração herdada de conceitos que não condizem com o esporte.