Há mais de dez anos atrás ocorreu o subito desaparecimento de Michele Alboreto. Num banal teste de pneus da pista oval de Laustitz, no leste da Alemanha, o estouro de um pneu em alta velocidade terminava com a vida de uma dos melhores pilotos dos anos 80, um dos últimos pilotos do seu país a pilotar a serviço da Ferrari. A notica da sua morte, aos 45 anos, apanhou muita gente desprevenida, pois um mês e meio antes, tinha vencido ao lado do seu compatriota Rinaldo Capello e do francês Laurent Aiello, as 12 horas de Sebring, ao volante do mesmo Audi R8 que o iria matar.
Contudo, a sua carreira no automobilismo foi muito rica, não só na Formula 1 como nas outras categorias, como a Endurance. Está na galeria dos vencedores das 24 Horas de Le Mans e tem uma passagem pelas ovais americanas.
Nascido em Milão na antevéspera de Natal de 1956 – teria hoje 54 anos – Alboreto estudou design na Universidade local, tendo começado a competir com um carro desenhado por ele mesmo, na Formula Monza, equipado com um motor Fiat 500, dois tempos, sem grande sucesso. Em 1978, foi correr na Formula 3, com carros mais potentes, e no final de 1979, ficou em terceiro lugar no campeonato italiano. Em 1980, correu no Campeonato Europeu da mesma categoria, que acabou por vencer, enquanto se envolveu na equipe oficial de Sport-Protótipos da Lancia. No ano seguinte, a bordo dos Lancia e fazendo par com o seu compatriota Ricardo Patrese, ganha as Seis Horas de Watkins Glen. Enquanto isso, na Formula 2, alcança algo inédito: ganha uma corrida do Europeu a bordo de um chassis Minardi. Termina o campeonato na oitava posição.
Mas nesse mesmo ano, tinha começado a correr na categoria máxima do automobilismo. Convidado pela Tyrrell para fazer alguns testes, fica na equipe para correr a partir do GP de San Marino, substituindo o argentino Ricardo Zunino, e com o apoio da Cerâmica Imola. Nesse ano de aprendizagem não consegue pontuar – e até não se classifica para os GPs da Espanha e Alemanha – mas pilota o suficiente para permanecer na equipe em 1982, quando o seu primeiro piloto, o americano Eddie Cheever, vai correr na Ligier.
Nessa temporada, obteve grandes resultados. Pontuou pela primeira vez no Rio de Janeiro, quando acabou a corrida na sexta posição, o que se converteu em um quarto lugar com as desclassificações de Nelson Piquet e Keke Rosberg. Repete o feito em Long Beach, quando chega em quarto, e consegue o seu primeiro pódio no GP de San Marino, onde só correram 14 carros. Ali, onde os Ferrari de Villeneuve e Pironi batalharam numa luta titânica que conduziu à inimizade dos dois e à morte do canadense, duas semanas depois, em Zolder, Alboreto comemorava aquele que iria ser o primeiro dos seus 23 pódios. Na segunda metade da temporada, pontua mais três vezes até à ultima prova do campeonato. Nas ruas de Las Vegas, dá á Tyrrell a sua primeira vitória em quatro anos. Pelo caminho, ainda faz a volta mais rápida. No final, Alboreto fica com 25 pontos e o oitavo lugar no campeonato.
Continua na Tyrrell em 1983, onde alcança em Detroit um marco significativo: ao ganhar essa corrida, torna-se o último piloto a ganhar num motor Ford Cosworth DFV, a última das 155 vitórias alcançadas por esse motor, desde o seu inicio, em 1967. Também foi o único pódio de Alboreto nesse ano, tendo conquistado dez pontos e o 12º lugar geral. Mas por essa altura tinha despertado o interesse da Ferrari e, na temporada de 1984, já estava correndo pela Scuderia italiana. Alboreto tinha se tornado o primeiro italiano a guiar pela Scuderia desde Arturo Merzário, em 1973.
A temporada não começa bem, mas na primeira prova na Europa, no circuito belga de Zolder, faz a pole-position e vence a corrida, a primeira de um italiano na Scuderia desde o GP de Itália de 1966, com Ludovico Scarfiotti. Mas o resto da temporada foi modesto, conseguindo três pódios na Austria, Itália e no circuito alemão de Nurburgring, palco do GP da Europa. Acabou a temporada com 30,5 pontos e o quarto lugar no campeonato.
Em 1985, Alboreto é o primeiro piloto da Ferrari e um forte candidato ao título, graças a um F1-85 competitivo, tendo como companheiro de equipe o sueco Stefan Johansson. Ganha no Canadá e na Alemanha, é segundo por quatro vezes e terceiro por duas vezes, em Detroit e em Zeltweg. No final do GP da Holanda, corrida onde acabaria na quarta posição, luta com Alain Prost pelo título mundial, com três pontos de diferença entre os dois, e as expectativas eram muito altas para a Scuderia quando chegam a Monza, palco do GP de Itália. Num autódromo cheio, os italiano saem desiludidos quando Prost vence Alboreto, que ficau pelo caminho a sete voltas do fim, vítima do seu motor. A partir dali não pontua mais, dando a Alain Prost o seu primeiro título mundial. No final da temporada, é vice-campeão do Mundo, com 53 pontos, resultado de duas vitórias, oito pódios, uma pole-position e duas voltas mais rápidas. Recebe um convite da Williams para 1986, que decide recusar…
Nesse ano, tinha legitimas esperanças de que o seu carro seria capaz de bater os McLaren e os Williams, mas não só foi batido por eles como foi também superado pelos Lotus e por vezes pela Benetton e Ligier. Só consegue um pódio no GP da Austria – onde termina na segunda posição – e no final da temporada fica com 14 pontos e o nono lugar na classificação.
Em 1987, Stefan Johansson vai para a McLaren e no seu lugar vem o jovem austriaco Gerhard Berger. Apesar de um bom carro, o piloto italiano é repetidamente batido pelo estreante. No final da temporada, Berger tinha vencido as duas ultimas provas do ano e Alboreto, nenhuma. O melhor que conseguiu foi um segundo lugar na Austrália, e dois terceiros lugares em San Marino e em Mônaco. Os 17 pontos e o sétimo lugar na temporada são uma verdadeira desilusão para ele e para os fãs italianos, que observam os seus carros sendo repetidamente ultrapassados pelos McLaren e Williams.
E para piorar as coisas, a temporada de 1988 foi de dominio total dos McLaren, com o seu modelo MP4-4, com Ayrton Senna e Alain Prost como pilotos, vencendo tudo. O título foi um duelo entre os dois, e a Ferrari não podia almejar mais do que um segundo lugar do campeonato de construtores e apostar em algum azar dos dois pilotos, algo que aconteceu, exatamente no GP de Itália, em Monza. Um mês depois da morte do Commentadore, aos 90 anos, a Ferrari esperava por um bom resultado naquele local, e quando viu os McLaren perderem a vitória devido a problemas mecânicos (Prost) e a um erro do piloto quando ultrapassava um concorrente atrasado (Senna), os tiffosi deliraram quando viram uma dupla da marca assumir a primeira e a segunda posição. Mas no lugar mais alto estava Gerhard Berger e não Michele Alboreto, que a esta altura já havia sido avisado que iria ser dispensado no final da temporada. No final do ano, consegue o quinto lugar na classificação, 24 pontos, três pódios e uma volta mais rápida.
Quando sai da Ferrari, regressa à sua primeira casa na Formula 1, a Tyrrell, a convite de Ken Tyrrell. Com o apoio da Marlboro Itália, pensava que a temporada iria ser calma. Mas cedo a relação ficou amarga quando Tyrrell entregou o novo chassis 018 ao seu companheiro Jonathan Palmer no GP de Mônaco. Chateado, decidiu boicotar uma das sessões, apesar de na corrida ter acabado na quinta posição. Consegue um pódio na corrida seguinte, o GP do Mexico, mas as relações dentro da equipe eram ruins. Antes do GP de França, Tyrrell arranja o patrocinio da Camel e pede a Alboreto para que termine a sua relação com a Marlboro, pois era uma rival. O italiano recusou e abandonou a equipe de imediato. No seu lugar veio o francês Jeran Alesi.
Alboreto queria guiar o resto da temporada, mas a Marlboro recusou a fazer-lhe isso e a relação com os dois terminou em seguida. Pouco tempo depois é convidado para correr na Larrousse, que era apoiada… pela Camel, e com motores Lamborghini V12. Contudo, não conseguiu muita coisa e não acrescentou mais pontos aos seis que tinha conseguido na Tyrrell, terminando o ano na 11ª posição.
Em 1990, passa para a Arrows, mas é um ano modesto e não pontua. Para piorar as coisas, a equipe assina um contrato de motores com a Porsche, que se revela um enorme fracasso. O V12 alemão é uma bomba e no meio do ano são trocados pelos Cosworth. Será o segundo ano em que não consegue alcançar nenhum ponto. Mas as coisas melhoraram em 1992, quando a Arrows consegue motores Mugen-Honda. Alboreto tem como companheiro o japonês Aguri Suzuki. Neste ano, consegue voltar aos bons resultados, obtendoseis pontos e o décimo lugar no campeonato. No final da temporada, transfere-se para outra equipe italiana, a BMS Scuderia Dallara. Tem como companheiro de equipe o estreante Luca Badoer. O carro era o mais fraco do pelotão e não conseguiu pontuar.
Em 1994, Alboreto tinha 37 anos, e aceita o convite de um antigo patrão da Formula 2: Giancarlo Minardi. Iria ser a sua última temporada na Formula 1, e o melhor que consegue é um digno sexto lugar no GP de Mônaco. No final da temporada, dá por concluído o seu capítulo na Formula 1.
A sua carreira fica assim resumida: 215 Grandes Prêmios, 13 temporadas, cinco vitórias, duas pole-positions e cinco voltas mais rápidas, com 22 pódios, conseguindo um total de 186,5 pontos.
Depois da Formula 1, Alboreto tentou a sua sorte em outras competições. Primeiro, corre a temporada de 1995 no DTM, ao serviço da Alfa Romeo e em 1996 faz algumas corridas nos Estados Unidos, participando nas 500 Milhas de Indianápolis desse ano. Em 1997, participou das 24 Horas de Le Mans num TWR de motor Porsche com o dinamarquês Tom Kristiensen e o seu ex-companheiro de equipe Stefan Johansson. Os três conseguem levar o carro até ao fim na primeira posição, algo inesperado, mas merecido. Em 1999, é contratado pela Audi para ajudar a desenvolver o R8, no sentido de o tornar um carro vencedor na corrida mais longa do mundo. No inicio de 2001, ganha a sua última corrida, as 12 Horas de Sebring, com o seu compatriota Rinaldo Capello e o francês Laurent Aiello.
Em 25 de Abril de 2001, Alboreto testava o seu Audi R8 para Le Mans, quando um pneu explodiu, fazendo-o capotar sobre as bancadas do circuito, matando-o de imediato. Tinha 44 anos. A sua morte choca a Itália, também pelo fato de ter sido o último piloto italiano a bordo de um Ferrari que venceu uma corrida. Alguns dias mais tarde, era cremado no Cemitério de Milão, com milhares de pessoas a ssistir, entre os quais os seus amigos Ricardo Patrese e Ivan Capelli.
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